Sunday, June 2, 2013

Introdução
Neste presente trabalho iremos abordar sobre teorias do conhecimento, conhecimento este que é o ato ou efeito de abstrair ideia ou noção de alguma coisa, estaremos a abordar vários assuntos como conceitos, origem do conhecimento entre outros assuntos relacionados a teoria do conhecimento.














Teoria do Conhecimento
Noções Básicas
A necessidade de procurar explicar o mundo dando-lhe um sentido e descobrindo-lhe as leis ocultas é tão antiga como o próprio Homem, que tem recorrido para isso quer ao auxílio da magia, do mito e da religião, quer, mais recentemente, à contribuição da ciência e da tecnologia. Mas é sobretudo nos últimos séculos da nossa História, que se tem dado a importância crescente aos domínios do conhecimento e da ciência. E se é certo que a preocupação com este tipo de questões remonta já à Grécia antiga, é porém a partir do séc. XVIII que a palavra ciência adquire um sentido mais preciso e mais próximo daquele que hoje lhe damos. É também sobretudo a partir desta época que as implicações da actividade científica na nossa vida quotidiana se têm tornado tão evidentes, que não lhe podemos ficar indiferentes. O que é o conhecimento científico, como se adquire, o que temos implícito quando dizemos que conhecemos determinado assunto, em que consiste a prática científica, que relação existe entre o conhecimento científico e o mundo real, quais as consequências práticas e éticas das descobertas científicas, são alguns dos problemas com que nos deparamos frequentemente. Diante desses questionamentos, este trabalho pretende fazer um apanhado geral acerca da Teoria do Conhecimento, suas correntes e representantes, de modo que se torne mais fácil a sua compreensão.

Conceito
A teoria do conhecimento, se interessa pela investigação da natureza, fontes e validade do conhecimento. Entre as questões principais que ela tenta responder estão as seguintes. O que é o conhecimento? Como nós o alcançamos? Podemos conseguir meios para defendê-lo contra o desafio céptico? Essas questões são, implicitamente, tão velhas quanto a filosofia. Mas, primordialmente na era moderna, a partir do século XVII em diante - como resultado do trabalho de Descartes (1596-1650) e Locke (1632-1704) em associação com a emergência da ciência moderna – é que ela tem ocupado um plano central na filosofia. Basicamente é conceituada como o estudo de assuntos que outras ciências não conseguem responder e se divide em quatro partes, sendo que três delas possuem correntes que tentam explica-las: I - O conhecimento como problema, II - Origem do Conhecimento e III - Essência do Conhecimento e IV - Possibilidade do Conhecimento.

Elementos do conhecimento
O homem (sujeito) adquire o conhecimento (objecto) pela razão. Segundo a teoria do conhecimento, as fontes de conhecimento vem com a experiência, a capacidade não pode ser comparada com a capacitação pois com a experiência aprendemos a lidar e a não cometer os mesmos erros. E vemos que o sujeito é activo em relação ao objecto.

Perspectivas da análise do conhecimento
Abordagem científica
Filogenética: A filogénese estuda a história da evolução humana, nomeadamente a constituição dos seres humanos como sujeitos cognitivos. A paleontologia humana, baseada em inúmeras investigações, afirma que os homens nem sempre tiveram a mesma constituição e  capacidades. A explicação mais consensual é que a evolução da nossa constituição morfológica e funcional, foi feita em simultâneo com o desenvolvimento das nossas capacidades cognitivas (memória, linguagem e pensamento) e esta de forma articulada com o desenvolvimento das nossas realizações e capacidades técnicas. Todos estes factores de forma inter-relacionada contribuíram para gerarem a espécie que somos.
         Ontogenética: O conhecimento é encarado como um processo de modificações e adaptações ao meio que desde o nascimento  ocorre em todos os seres vivos. Segundo diversos autores, a ontogénese repete a filogenese, isto é, o desenvolvimento da humanidade é como que repetido no desenvolvimento de cada ser.
Jean Piaget (1896-1980), começou por estudar o modo como, em cada indivíduo se desenvolve a faculdade de raciocinar (abordagem genética) considerando, deste modo, que esta faculdade  não está pré-constituída aquando do nascimento de uma criança. Chegou à conclusão de que na origem do conhecimento estaria um processo dinâmico em que há uma permanente interacção entre o sujeito e o objecto. O estudo deste processo de constitutivo das nossas capacidades cognitivas, conduziu Piaget a descobrir  quatro grandes períodos ou estádios que são caracterizados em função das capacidades, de que um indivíduo dispõe para a apreensão e organização da realidade. 1. Estádio da inteligência sensório-motora (do nascimento aos 2 anos); 2. Estádio da inteligência pré-operatória (dos 2 aos 7 anos); 3. Estádio das operações concretas  dos 7 anos 12 anos); 4. Estádio das operações formais ou abstractas.   Cada estádio representa uma forma de equilíbrio mais estável. Nesta perspectiva não existem estruturas inatas. Inata é apenas a necessidade de adaptação ao meio. Esta perspectiva do conhecimento é hoje denominada por construtivismo.
A perspectiva da sociologia do conhecimento
Para Karl Marx o conhecimento humano é condicionado pelo meio social que molda o sujeito. De um modo geral, o dogmatismo é uma espécie de fundamentalismo senso comum. Os dogmas expressam verdades talvez não certas, indubitáveis e não sujeitas a qualquer tipo de revisão ou crítica. Deve-se ao filósofo alemão Immanuel Kant (1724 - 1804) e à obra Crítica da Razão Pura o significado filosoficamente pejorativo do termo.

Abordagem Filosófica
Análise fenomenológica do acto de conhecimento: Em todo o conhecimento, um "cognoscente" e um "conhecido", um sujeito e um objecto encontram-se face a face. A relação que existe entre os dois é o próprio conhecimento. A oposição dos dois termos não pode ser suprimida; esta oposição significa que os dois termos são originariamente separados um do outro, transcendentes um ao outro.
Os dois termos da relação não podem ser separados dela sem deixar de ser sujeito e objecto. O sujeito só é sujeito em relação a um objecto e o objecto só é objecto em relação a um sujeito. Cada um deles é o que é em relação ao outro. Estão ligados um ao outro por uma estreita relação; condicionam-se reciprocamente. A sua relação é uma correlação.
A relação constitutiva do conhecimento é dupla, mas não é reversível. O facto de desempenhar o papel de sujeito em relação a um objecto é diferente do facto de desempenhar o papel de objecto em relação a um sujeito. No interior da correlação, sujeito e objecto não são, portanto, permutáveis, a sua função é na sua essência diferente. (...)
A função do sujeito consiste em apreender o objecto; a do objecto em poder ser apreendido pelo sujeito e em sê-lo efectivamente.
Considerada do lado do sujeito, esta apreensão pode ser descrita como uma saída do sujeito para fora da sua própria esfera e como uma incursão na esfera do objecto, a qual é, para o sujeito, transcendente e heterogénea. O sujeito apreende as determinações do objecto e, ao aprendê-las, introdu-las, fá-las entrar na sua própria esfera.
O sujeito não pode captar as propriedades do objecto senão fora de si mesmo, pois a oposição do sujeito e do objecto não desaparece na união que o acto do conhecimento estabelece entre eles; permanece indestrutível. A consciência dessa oposição é um aspecto essencial da consciência do objecto. O objecto, mesmo quando é apreendido, permanece para o sujeito algo exterior; é sempre o objectum, quer dizer, o que está diante dele. O sujeito não pode captar o objecto sem sair de si (sem se transcender); mas não pode ter consciência do que é apreendido, sem entrar em si, sem se reencontrar na sua própria esfera. O conhecimento realiza-se, por assim dizer, em três tempos: o sujeito sai de si, está fora de si e regressa finalmente a si.
O facto de que o sujeito saia de si para apreender o objecto não muda nada neste. O objecto não se torna por isso imanente. As características do objecto, se bem que sejam apreendidas e como que introduzidas na esfera do sujeito, não são, contudo, deslocadas. Apreender o objecto não significa fazê-lo entrar no sujeito, mas sim reproduzir neste as determinações do objecto numa construção que terá um conteúdo idêntico ao do objecto. Esta construção operada no conhecimento é a "imagem" do objecto. O objecto não é modificado pelo sujeito, mas sim o sujeito pelo objecto. Apenas no sujeito alguma coisa se transformou pelo acto do conhecimento. No objecto nada de novo foi criado; mas no sujeito nasce a consciência do objecto com o seu conteúdo, a imagem do objecto.

Problemas e correntes filosóficas da teoria de conhecimento
Possibilidade do Conhecimento
Essa parte da teoria do conhecimento é responsável por solucionar a seguinte questão: qual a possibilidade do conhecimento?
Para que seja possível respondê-la, muitos autores recorrem a duas importantes posições: o dogmatismo e o ceticismo, os quais veremos abaixo.
• Dogmatismo
É a corrente que se julga em condições de afirmar a possibilidade de conhecer verdades universais quanto ao ser, à existência e à conduta, transcendendo o campo das puras relações fenomenais e sem limites impostos a priori à razão.
Existem duas espécies de dogmatismo: o total e o parcial.
O primeiro é aquele em que a afirmação da possibilidade de se alcançar a verdade ultima é feita tanto no plano da especulação, quanto no da vida pratica ou da Ética. Esse dogmatismo intransigente, quase não é adotado, devido à rigorosidade de adequação do pensamento. Porém, encontramos em Hegel a expressão máxima desse tipo de dogmatismo, pois, existe em suas obras uma identificação absoluta entre pensamento e realidade. Como o próprio autor diz “o pensamento, na medida em que é, é a coisa em si, e a coisa em si, na medida em que é, é o pensamento puro”.
Já o parcial, adotado em maior extensão, tem um sentido mais atenuado, na intenção de afirmar-se a possibilidade de se atingir o absoluto em dadas circunstâncias e modos quando não sob certo prisma. Ou seja, é a crença no poder da razão ou da intuição como instrumentos de acesso ao real em si.
Alguns dogmáticos parciais se julgam aptos para afirmar a verdade absoluta no plano da ação. Entretanto, outros somente admitem tais verdades no plano especulativo. Daí origina-se a distinção entre dogmatismo teórico e dogmatismo ético.
O dogmatismo ético tem como adeptos Hume e Kant, que duvidavam da possibilidade de atingir as verdades últimas enquanto sujeito pensante (homo theoreticus) e afirmavam as razões primordiais de agir, estabelecendo as bases de sua Ética ou de sua Moral.
Por conseguinte, temos como adepto do dogmatismo teórico, Blaise Pascal, que não duvidava de seus cálculos matemáticos e da exatidão das ciências enquanto ciências, mas era assaltado por duvidas no plano do agir ou da conduta humana.
Dogmatismo é uma atitude natural e espontânea que temos desde criança com senso. É uma tendência a crer que o mundo é do jeito que aprendemos. Dogmatismo espontâneo é uma atitude de quem julga conhecer as coisas como elas são, é uma crença que, como tal, não permite reflexão ou crítica. Dogmatismo crítico é o contrário do espontâneo ela admite a possibilidade de do homem conhecer mas este não é perfeito e total.

• Cepticismo
Consiste numa atitude dubitativa ou uma provisoriedade constante, mesmo a respeito de opiniões emitidas no âmbito das relações empíricas. Essa atitude nunca é abandonada pelo ceticismo, mesmo quando são enunciados juízos sobre algo de maneira provisória, sujeitos a refutação à luz de sucessivos testes.
Ou seja, o ceticismo se distingue das outras correntes por causa de sua posição de reserva e de desconfiança em relação às coisas.
Há no ceticismo – assim como no dogmatismo – uma distinção entre absoluto e parcial, ressaltando que este último não será discutido nesse trabalho.
O ceticismo absoluto é oriundo da Grécia e também denominado pirronismo. Prega a necessidade da suspensão do juízo, dada a impossibilidade de qualquer conhecimento certo. Ele envolve tanto as verdades metafísicas (da realidade em si mesma), quanto as relativas ao fundo dos fenômenos. Segundo essa corrente, o homem não pode pretender nenhum conhecimento por não haver adequação possível entre o sujeito cognoscente e o objeto conhecido. Ou seja, para os céticos absolutos, não há outra solução para o homem senão a atitude de não formular problemas, dada a equivalência fatal de todas as respostas.
Um dos representantes do ceticismo de maior destaque na filosofia moderna é Augusto Comte.
As teorias do conhecimento que se desenvolveram na Antiguidade e na Idade Média não colocavam em dúvida a possibilidade de conhecer a realidade tal qual ela é. Contudo as influências do Renascimento levaram, a partir do século XVII, ao questionamento da possibilidade do conhecimento, dando, nas respostas ensaiadas, origem às teorias empiristas e racionalistas. Kant supera essa dicotomia, concluindo que o conhecimento só é possível pela conjunção das suas fontes: a sensibilidade e o entendimento.A sensibilidade dá a matéria e o entendimento as formas do conhecimento. O criticismo kantiano tinha como objetivo principal a critica das faculdades cognitivas do homem, no sentido de conhecermos os seus limites. Em consequência dessa «crítica», foi levado à negação da possibilidade de a razão humana conhecer a essência das coisas (númeno).
Para Peirce o significado de qualquer conceito é a soma de suas todas consequências possíveis.
Para William James a utilidade da filosofia deveria ser investigar apenas o que realmente faz diferença na nossa vida prática. Assim, ele vai contra as reflexões filosóficas abstratas e insuficientes, princípios fixos e absolutos, sistemas fechados e teorias sobre origens. James defende que teorias são instrumentos e não respostas para enigmas, pois respostas nos permitem descansar tranquilos enquanto instrumentos somente são úteis quando utilizados com finalidades práticas. Nas palavras de William James e Francis Schaeffer, o pragmatismo defende que o sentido de tudo está na utilidade - ou efeito prático - que qualquer ato, objeto ou proposição possa ser capaz de gerar. Uma pessoa pragmatista vive pela lógica de que as ideias e atos de qualquer pessoa somente são verdadeiros se servem à solução imediata de seus problemas. Nesse caso, define-se como verdade o conjunto de todas as suas consequências práticas relativas a determinado contexto. Por exemplo: uma religião só é boa quando tiver como consequência indivíduos mais generosos, pacíficos e felizes. O que torna verdadeira a afirmação de que ela é boa são suas consequências. E a filosofia deve estudar o que faz gerar essas consequências e como usá-las para tornar a sociedade um lugar melhor.
O pragmatismo refuta a perspectiva de que o intelecto e os conceitos humanos podem, só por si, representar adequadamente a realidade. Dessa forma, opõe-se tanto às correntes formalistas quanto às correntes racionalistas da filosofia. Antes, defende que as teorias e o conhecimento só adquirem significado através da luta de organismos inteligentes com o seu meio. Não defende, no entanto, que seja verdade meramente aquilo que é prático ou útil ou o que nos ajude a sobreviver a curto prazo. Os pragmatistas argumentam que se deve considerar como verdadeiro aquilo que mais contribui para o bem estar da humanidade em geral, no mais longo prazo possível.

O Conhecimento Quanto à Origem
A polêmica racionalismo-empirismo tem sido uma das mais persistentes ao longo da história da filosofia, e encontra eco ainda hoje em diversas posições de epistemólogos ou filósofos da ciência. Abundam, ao longo da linha constituída nos seus extremos pelo racionalismo e pelo empirismo radicais, as posições intermédias, as tentativas de conciliação e de superação, como veremos a seguir.
• Empirismo
“O empirismo pode ser definido como a asserção de que todo conhecimento sintético é baseado na experiência.” (Bertrand Russell).
Conceitua-se empirismo, como a corrente de pensamento que sustenta que a experiência sensorial é a origem única ou fundamental do conhecimento.
Originário da Grécia Antiga, o empirismo foi reformulado através do tempo na Idade Média e Moderna, assumindo várias manifestações e atitudes, tornando-se notável as distinções e divergências existentes. Porém, é notório que existem características fundamentais, sem as quais se perde a essência do empirismo e a qual, todos os autores conservam, que é a tese de que todo e qualquer conhecimento sintético haure sua origem na experiência e só é válido quando verificado por fatos metodicamente observados, ou se reduz a verdades já fundadas no processo de pesquisa dos dados do real, embora, sua validade lógica possa transcender o plano dos fatos observados.
Como já foi dito anteriormente, existe no empirismo divergência de pensamentos, e é exatamente esse aspecto que abordaremos a seguir. São três, as linhas empíricas, sendo elas: a integral, a moderada e a científica.
O empirismo integral reduz todos os conhecimentos – inclusive os matemáticos – à fonte empírica, àquilo que é produto de contato direto e imediato com a experiência. Quando a redução é feita à mera experiência sensível, temos o sensismo (ou sensualismo). É o caso de John Stuart Mill, que na obra Sistema da Lógica diz que todos os conhecimentos científicos resultam de processos indutivos, não constituindo exceção as verdades matemáticas, que seriam resultado de generalizações a partir de dados da experiência. Ele apresenta a indução como único método científico e afirma que nela resolvem-se tanto o silogismo quanto os axiomas matemáticos.
O empirismo moderado, também denominado genético-psicológico, explica que a origem temporal dos conhecimentos parte da experiência, mas não reduz a ela a validez do conhecimento, o qual pode ser não-empiricamente valido (como nos casos dos juízos analíticos). Uma das obras baseadas nessa linha é a de John Locke (Ensaios sobre o Entendimento Humano), na qual ele explica que as sensações são ponto de partida de tudo aquilo que se conhece. Todas as idéias são elaborações de elementos que os sentidos recebem em contato com a realidade.
Como já foi dito, para os moderados há verdades universalmente validas, como as matemáticas, cuja validez não assenta na experiência, e sim no pensamento. Na doutrina de Locke, existe a admissão de uma esfera de validade lógica a priori e, portanto não empírica, no que concerne aos juízos matemáticos.
Por fim, há o empirismo científico, que admite como válido, o conhecimento oriundo da experiência ou verificado experimentalmente, atribuindo aos juízos analíticos significações de ordem formal enquadradas no domínio das fórmulas lógicas. Esta tendência está longe de alcançar a almejada “unanimidade cientifica”.
• Racionalismo
É a corrente que assevera o papel preponderante da razão no processo cognoscitivo, pois, os fatos não são fontes de todos os conhecimentos e não nos oferecem condições de “certeza”.
Um dos grandes representantes do racionalismo, Gottfried Leibniz, afirma em sua obra Novos Ensaios sobre o Entendimento Humano, que nem todas as verdades são verdades de fato; ao lado delas, existem as verdades de razão, que são aquelas inerentes ao próprio pensamento humano e dotadas de universalidade e certeza (como por exemplo, os princípios de identidade e de razão suficiente), enquanto as verdades de fato são contingentes e particulares, implicando sempre a possibilidade de correção, sendo válidas dentro de limites determinados.
Ainda retratando o pensamento racionalista, encontramos Reneé Descartes, adepto do inatismo, que afirma que somos todos possuidores, enquanto seres pensantes, de uma série de princípios evidentes, idéias natas, que servem de fundamento lógico a todos os elementos com que nos enriquecem a percepção e a representação, ou seja, para ele, o racionalismo se preocupa com a idéia fundante que a razão por si mesma logra atingir.
Esses dois pensadores podem ser classificados como representantes do racionalismo ontológico, que consiste em entender a realidade como racional, ou em racionalizar o real, de maneira que a explicação conceitual mais simples, se tenha em conta da mais simples e segura explicação da realidade.
Existe também uma outra linha racionalista, originada de Aristóteles, denominada intelectualismo, que reconhece a existência de “verdades de razão” e, além disso, atribui à inteligência função positiva no ato de conhecer, ou seja, a razão não contém em si mesma, verdades universais como idéias natas, mas as atinge à vista dos fatos particulares que o intelecto coordena. Concluindo: o intelecto extrai os conceitos ínsitos no real, operando sobre as imagens que o real oferece.
Hessen, um dos adeptos do intelectualismo, lembra que há nele uma concepção metafísica da realidade como condição de sua gnoseologia, que é conceber a realidade como algo de racional, contendo no particularismo contingente de seus elementos, as verdades universais que o intelecto “lê” e “extrai”, realizando-se uma adequação plena entre o entendimento e a realidade, no que esta tem de essencial.
Por fim, devemos citar uma ramificação do racionalismo que alguns autores consideram autônoma, que é o Criticismo.
O criticismo é o estudo metódico prévio do ato de conhecer e dos modos de conhecimento, ou seja, uma disposição metódica do espírito no sentido de situar, preliminarmente o problema do conhecimento em função da relação “sujeito-objeto”, indagando as suas condições e pressupostos. Ele aceita e recusa certas afirmações do empirismo e racionalismo, por isso, muitos autores acreditam em sua autonomia. Entretanto, devemos entender tal posição como uma análise crítica e profunda dos pressupostos do conhecimento.
Seu maior representante, Immanuel Kant, tem como marca a determinação a priori das condições lógicas das ciências. Ele declara que o conhecimento não pode prescindir da experiência, a qual fornece o material cognoscível e nesse ponto coincide com o empirismo. Porém, sustenta também que o conhecimento de base empírica não pode prescindir de elementos racionais, tanto que só adquire validade universal quando os dados sensoriais são ordenados pela razão. Segundo palavras do próprio autor, “os conceitos sem as intuições são vazios; as intuições sem os conceitos são cegas”.
Para ele, o conhecimento é sempre uma subordinação do real à medida do humano.
Conclui-se então, que pela ótica do criticismo, o conhecimento implica sempre numa contribuição positiva e construtora por parte do sujeito cognoscente em razão de algo que está no espírito, anteriormente à experiência do ponto de vista gnosiológico. 

Apriorismo é uma teoria explicativa da origem do conhecimento, inserida nas concepções clássicas (fundadas num modelo fenomenológico), elaborada por Kant. Define que a elaboração do conhecimento científico é fruto de, numa primeira fase, captação sensorial da realidade - númeno - de forma limitada (pelos nossos próprios sentidos) - fenómeno - através de estruturas a priori no indivíduo (formas a priori da sensibilidade - espaço e tempo) elaborando-se assim percepções, isto é, sensações estruturadas pelas formas a priori. Estas percepções irão depois passar à fase do entendimento, onde, pela ascensão ao longo de 12 categorias (as formas a priori do entendimento), aproximarão esta percepção dum verdadeiro conhecimento científico. De notar que as formas organizadoras não mais são que estruturas do sujeito desprovidas de qualquer valor material, que serão "preenchidas" pelos dados recolhidos pelos sentidos. Estabelece-se igualmente a distinção entre conhecimento científico e razão, visto que este último refere-se a idéias, localizadas num plano eidético, inteligível.

 

REVOLUÇÃO COPERNICANA NA TEORIA DO CONHECIMENTO


Na história da astrofísica, chama-se revolução copernicana aquela em que o célebre astrônomo polonês Nicolau Copérnico (1473-1543), fugindo à geral convicção de que a terra ocupava o centro de nosso sistema (geocentrismo), passou a ensinar e comprovar que a terra, até então considerada o centro, nada mais era do que um pequeno planeta girando, como muitos outros, em torno do sol, a grande estrela, esta, sim, o centro de gravitação de todo o sistema (heliocentrismo). Raios de condenação caíram sobre Copérnico, arremessados por aqueles que se consideravam, na época, os detentores do monopólio da verdade. No campo da teoria do conhecimento, o filósofo alemão Emanuel Kant (1724-1804) fez uma revolução semelhante à que Copérnico fizera no mundo dos astros. Até então, o objeto a ser conhecido era o centro na dinâmica do conhecimento; em torno dele, giravam os sujeitos, a saber, os seres humanos, buscando, a todo custo, conhecer o objeto, sem questionar os seus próprios limites. Kant disse o contrário: no centro do processo de conhecimento, está o sujeito; em torno do sujeito, giram os diversos objetos. Alguns o sujeito capta; outros, não. O conhecimento se adquire na medida do sujeito, isto é, na medida de sua capacidade, naturalmente limitada, havendo objetos que escapam à antena do conhecimento humano.

Realmente, e foi Kant quem deu o alerta, é muita arrogância querer que todo e qualquer objeto caia na pequena rede de nosso conhecimento. A capacidade que o ser humano tem de conhecer é limitada. Kant teve uma posição filosófica humilde, realista. A essa mudança de centro na teoria do conhecimento se dá, por analogia, o nome de revolução copernicana. Isso tem implicações em nosso dia a dia, pois há coisas que extrapolam nossa esfera de conhecimento. Exemplos: Deus existe? O que é Deus? Quem é Deus? O que acontece com o ser humano após a morte? A vida prossegue? Como?

Como esses, existem muitos outros questionamentos cujas respostas transcendem, estão além de nossa capacidade. Em vez de se aventurar em explicações simplórias, ingênuas, não seria mais sensato cada um conscientizar-se de seus limites e reconhecer, como Sócrates: só sei que nada sei? Por que essa presunção de conhecer todo objeto, real ou imaginário, que se coloca à nossa frente? O que sabemos é uma gota d´água; o que não sabemos é um oceano. Atitude científica, atitude de pesquisa, sim; mas com consciência de nossos limites. Essa autocrítica nos fará evitar muitos conflitos ideológicos, com cheiro de radicalismo, verdadeiros muros de separação, cimentados de intolerância e que levam a nada. A humildade, que é filha da realidade, nos irmana muito mais do que as verdades impostas.
A natureza do conhecimento
Ezistem duas correntes que defendem a natuza do conhecimento:
Realismo: O realista conhece, prova, afirma a existência da razão objetiva. o realismo, por oposição ao idealismo, responde à questão da natureza ou essência do conhecimento. Sustenta o princípio da transcendência do objecto em relação ao sujeito para afirmar, deste modo, a total e completa independência entre a realidade e a consciência. Trata-se, pois, de uma atitude epistemológica segundo a qual há coisas reais, independentes da consciência.
O realismo subdivide-se em duas modalidades: realismo crítico e ingénuo, constituindo, este último, a atitude específica do senso comum enquanto que a primeira forma resulta de uma atitude que assenta em considerações de natureza crítica do conhecimento.

Idealismo: O idealista pensa, desenvolve teorias, afirma a razão subjetiva, ou seja, a razão em relação aos sentimentos.
O idealismo, no seu sentido epistemológico, afirma o princípio da imanência do objecto em relação ao sujeito, ou seja,  sustenta a tese de que não há coisas reais, independentes da consciência. É comum apontar-se Berkeley como o representante clássico desta corrente, uma vez que encontrou a fórmula exacta para o ponto de vista do idealismo: "Ser é ser percebido".

Valor do Conhecimento
Existem duas correntes no valor do conhecimento, que é o absolutismo que afirma não so a objectividade do conhecimento, como também lhe confere um valor absoluto. Portanto não restam duvidas sobre o valor do conhecimento e não apresenta nenhum limite, e o relativismo este atribui valores simplesmente relativo ao conhecimento.

Os níveis de conhecimento
         A tradicional divisão dos níveis de conhecimento mostra-se, a um exame mais acurado, extremamente frágil. Os limites entre os quatro níveis não são claros, e pode-se até questionar o porquê da não-inclusão, por exemplo, das artes como uma forma de conhecimento. Não seria o romance uma forma de mídia para a transmissão de um certo tipo de conhecimento? Além disso, não se estabelece espaço, nessa divisão, para agrupar (e por conseqüência explicar) as chamadas pseudociências, tais como a paranormalidade e a astrologia. E poderíamos ainda perguntar: onde se classificam as ciências humanas? Entre os conhecimentos científicos? Filosóficos? Ou fora do conjunto dos conhecimentos?
Essa divisão, portanto, não deve ser tomada a ferro e fogo. De qualquer forma, como os níveis de conhecimento constituem-se em tema recorrente nos textos sobre metodologia, pode-se aproveitá-los para algumas breves reflexões.

1. Conhecimento popular ou empírico
         Também denominado bom senso ou senso comum, é aquele que todo ser humano desenvolve, no contato direto e diário com a realidade. Todo ser humano comum bem informado é lógico nos seus arrazoados. Conhece muito sobre o mundo em que vive. Como tal fornece aos outros  “receitas infalíveis, conselhos e informações preciosas”. As mulheres que já tiveram filhos dão consultas gratuitas para as principiantes que lutam contra os problemas do primeiro filho. Quando alguém está com  dor-de-cabeça, sempre aparece um “especialista” que conhece um comprimido eficaz, que alivia a dor rapidamente. Mas, ignora a composição do medicamento, a natureza da dor e a forma de atuação do medicamento. Este tipo de conhecimento, superficial, por informação ou experiência casual, recebe o nome de conhecimento vulgar ou empírico.
Sobre o conhecimento vulgar podemos dizer ainda que é comum e possível a todo ser humano, de qualquer nível cultural.  Não questiona, não analisa, não exige demonstração, é ocasional e assistemático. Vale dizer que o conhecimento vulgar atinge as coisas, enquanto o conhecimento científico estuda sua constituição íntima e suas causas.
 Estrutura-se como um conjunto de crenças e opiniões, utilizadas em geral para objetivos práticos. É basicamente desenvolvido por meio dos sentidos, e não tem intenção de ser profundo, sistemático e/ou infalível.
2. Conhecimento religioso ou teológico
             O fundamento do conhecimento religioso é a fé. Não é preciso ver para crer, e a crença ocorre mesmo que as evidências apontem no sentido contrário. As verdades religiosas são registradas em livros sagrados ou são reveladas por seres espirituais, por meio de alguns iluminados, santos ou profetas. Essas verdades são quase sempre definitivas e não permitem revisões mediante reflexão ou experimentos. Portanto o conhecimento religioso é um conhecimento mítico, dogmático ou ainda espiritual. 
3. Conhecimento filosófico
            A Filosofia surge como um saber que procura diferenciar-se dos mitos, das retóricas e dos sofistas, das tragédias e dos poetas, e a partir de então se estabelece por séculos como um espaço de liberdade de pensamento, desafiando a lei de que o conhecimento pode tornar-se ultrapassado ou superado com o passar do tempo, com novas experiências ou com o surgimento de novos instrumentos de observação. A Filosofia é a ciência mãe, da qual  foram, pouco a pouco, separando-se formas de pensar e métodos que mais tarde se especializaram e se tornaram independentes, e que hoje consideramos ciência. Mesmo assim, ainda hoje, é difícil estabelecer contornos que separam o conhecimento filosófico de outros tipos de conhecimento. 
4 Conhecimento científico
Diferentemente do conhecimento vulgar, o conhecimento científico não atinge simplesmente os fenômenos na sua manifestação global, mas os atinge em suas causas, na sua constituição íntima, caracterizando-se, desta forma, pela capacidade de analisar, de explicar, de desdobrar, de justificar, de induzir ou aplicar leis, de predizer com segurança eventos futuros.
 A ciência é fruto da tendência humana para procurar explicações  válidas, para questionar e exigir respostas  e justificações convincentes. Este dinamismo questionador peculiar ao espírito humano já se manifesta na primeira infância, quando criança multiplica suas indagações sobre as coisas, chegando mesmo a embaraçar os adultos.  Felizmente ou infelizmente, as crianças acabam aceitando respostas incompletas e imperfeitas.
 Conhecimento científico é expressão que lembra laboratório, instrumental de pesquisa, trabalho programado, metódico, sistemático e não faz associações com inspiração mística ou artística, religiosa ou poética. A expressão conhecimento científico evidencia o caráter de autoridade, de respeitabilidade, que falta ao conhecimento vulgar.  
O conhecimento científico é privilégio  de especialistas das diversas áreas das ciências. É um processo sistemático, metódico, orgânico, crítico, rigoroso e objetivo. Nasce da dúvida e se consolida na certeza das leis demonstradas, válidas para todos os casos de mesma espécie que venham a ocorrer nas mesmas condições.
 O conhecimento científico é obtido a partir de um conjunto de processos determinados pelo homem, como tal, é passível de interpretações incompletas ou não consistentes por muito tempo. A única certeza, é a de que, todo conhecimento científico é precário e pode ser reformulado e reinterpretado a qualquer tempo.
Classificação das ciências segundo Augusto Comte
A distribuição sistemática em diversas categorias. — A. Comte classificou as ciências segundo o grau de complexidade de seus objetos: 1.° as matemáticas não tratam de objetos reais, mas somente de números; 2.° a astronomia trata de números e de objetos que não podemos tocar, cujo curso é portanto imutável; 3.° a física trata de números e de objetos infinitamente mais variáveis e mutáveis: podemos agir sobre eles e ordená-los em função de nossa experimentação; 4.° a química acrescenta à complexidade da física reações específicas e qualitativas; 5.° a biologia acrescenta à complexidade da química o fenômeno da vida; 6.° a sociologia, por fim, faz intervir, além de tudo isso, o elemento humano. Essa classificação segundo a ordem de complexidade crescente segue também a ordem cronológica do desenvolvimento das ciências: as matemáticas representam a ciência mais antiga e a sociologia, ou ciência do homem, a mais recente.
A questão da verdade
São quatro estados do espírito perante a verdade:
Ignorância - refere-se à falta de conhecimento, sabedoria e instrução sobre um determinado assunto ou pior quando chega a ser como uma doença na qual o seu portador desconhece quase tudo tendo em lugar de conhecimentos plausíveis preconceitos que se interligam fazendo um sistema ideológico simplificador e redutor.
Duvida - (derivado do latim dubitare) é uma condição psicológica ou sentimento caracterizado pela ausência de convicção opondo-se à crença/ e ao saber. Ela é a incerteza ou desconfiança em relação a uma ideia, um fato, uma acção, de uma asserção ou de uma decisão. Para que se estabeleça a dúvida em geral é necessária uma noção de realidade do fato em que existe a suspeita, e isto pode adiar a decisão de acções relevantes ao fato pois podem estar incorrectas ou incompletas.
Opinião - maneira pessoal de julgar, conceito formado a respeito de um assunto.
Certeza - é uma condição psicológica, ou estado mental, de que as coisas são tais quais o indivíduo as concebe, ou ainda de estar na posse da verdade. Em outras palavras, caracteriza-se pela absoluta adesão a uma ideia, opinião ou fato, desconsiderando qualquer possibilidade de erro ou equívoco, sendo logo, um antagonismo à dúvida.

É um procedimento através do qual podemos distinguir a verdade da falsidade. Citamos o seguinte:


Epistemologia contemporânea
Longa discussão tem sido travada sobre a perspectiva a adoptar para pensar e descrever a evolução das ciências. Trata-se, sobretudo, de determinar a relação de novos conhecimentos com os anteriores: os conhecimentos novos são do mesmo tipo que os anteriores e sua consequência natural (continuísmo)? Os novos conhecimentos rompem com os anteriores e exigem perspectivas radicalmente novas (descontinuamos)?
Segundo a imagem continuísta e ingénua do desenvolvimento científico, imagem ainda reinante ao nível do senso comum, este é um processo linear e acumulativo:
Linear, porque se desenvolveria sempre na mesma direcção, "para a frente," isto é, a cientificidade dos conhecimentos seria estabelecida de uma vez por todas, pelo que não haveria necessidade de a eles retornar;
Acumulativo, porque os conhecimentos científicos apenas se acumulam, ou seja, os conhecimentos novos acrescentam-se aos anteriores sem os pôr em questão.
Esta imagem do desenvolvimento da ciência é solidária de algumas suposições que convém destacar:
— o conhecimento científico é conhecimento verificado: isto é, conhecimento cuja validade foi estabelecida definitivamente. Ora, isso implica uma outra situação:
— há um método científico e esse método é infalível, quer dizer, é sempre capaz de estabelecer a falsidade ou a verdade das hipóteses;
— a ciência é obra de uma razão arquitectónica, isto é, de uma razão que parte de "fundamentos sólidos" e progride erguendo andar sobre andar, sem interrupções bruscas e sem necessidade de reconstruções;
— o desenvolvimento da ciência é contínuo: as descobertas de um momento da ciência ligam-se directamente às precedentes, um nível de conhecimentos assenta directamente sobre o anterior;
— a nossa aprendizagem, segundo manuais onde os conhecimentos são apresentados, tanto quanto possível, num movimento gradual, contínuo, do mais simples para o mais complexo, faz-nos supor que a história da sua invenção teria um ritmo semelhante;
— na transmissão da ciência são eliminados os passos em falso, os erros, as hipóteses que vigoram durante algum tempo para depois serem eliminadas. A transmissão elimina os factores polémicos, os debates que acompanham todos os momentos da ciência — produzindo, portanto, a imagem de uma ciência que evolui com passos sempre seguros;
Hoje, verifica-se que a ingénua imagem continuísta do desenvolvimento científico deve ser abandonada. Foram sobretudo factos interiores ao próprio processo de desenvolvimento das ciências que abalaram profundamente esta imagem da evolução do saber.
O continuísmo reflectido (por exemplo, P. Duhem) não assume a ciência como sendo isenta de erro e de correcções e nisso distingue-se do continuísmo ingénuo. Mantém-se continuísta no sentido em que faz assentar as descobertas de uma época da ciência não nas verdades do período anterior, como o continuísmo ingénuo, mas sim nas investigações e debates das épocas anteriores. No interior deste processo, os erros assumem um interesse particular e o exame crítico dos problemas por eles levantados constitui, com frequência, o elemento de continuidade, o elo de ligação entre uma e outra fase da ciência.
Descrição geral da perspectiva descontinuísta
Segundo os descontinuístas (por exemplo, Bachelard, A. Koyré, Popper), o desenvolvimento da ciência contém momentos de ruptura que separam nitidamente uma fase da outra, às vezes quase antagonizando-as. Essas rupturas dizem respeito sobretudo aos princípios gerais e não podem considerar-se preparadas por qualquer tipo de antecipação. Quando uma teoria, ou, se quisermos, um complexo de teorias ligadas pelo mesmo "paradigma", não consegue descrever os novos resultados experimentais, ou quando lhe descobrimos as contradições e as lacunas que se tornam insanáveis, então torna-se necessário inventar novas hipóteses que abrirão caminho a um tipo de investigação à partida imprevisível.
Não há dúvida que uma tal visão descontinuísta se revela adequada a descrever algumas grandes revoluções científicas, como, por exemplo, a de Galileu, de Darwin, de Einstein, etc. Mas permanece o problema: que coisa levou Galileu, Darwin, Einstein a inventarem as suas novas hipóteses? Para responder a esta pergunta, ou se recorre às tentativas dos seus predecessores (nas suas linhas gerais ainda agarrados ao velho paradigma, mas já bem convencidos da necessidade de o superar) ou então se invoca uma intuição que, em boa verdade, é uma forma de dizer que não sabemos.

Duas perspectivas descontinuístas: Popper e Kuhn
KARL POPPER
Em Popper, há um certo continuísmo. Ele sublinha que a sucessão das teorias constitui um progresso das ciências em direcção à verdade — a sua meta inalcançável. As teorias refutadas inserem-se nesse movimento de aproximação à verdade. Contra o descontinuísmo radical, afirma que "as nossas teorias são senso comum criticado e esclarecido".
O elemento descontinuísta do pensamento de Popper reside no facto de ele não considerar que o progresso se faça por acumulação de conhecimentos — a relação entre velhas e novas teorias, entre a actualidade da ciência e o seu passado, é crítica. As novas teorias corrigem e/ou substituem as anteriores. O desenvolvimento da ciência é imprevisível, porque as teorias científicas são livres criações do sujeito: a referência aos antecedentes só pode esclarecer a situação do problema cuja solução exige um acto criativo que não se pode prever a partir dessa situação. Os progressos mais significativos das ciências constituem revoluções intelectuais e científicas.
«Segundo Popper, na ciência nós procuramos a verdade — e a verdade não é dada pelos factos, mas pelas teorias que correspondem aos factos. Entretanto, essa é uma definição de verdade, mas nós não temos um critério de verdade, já que, ainda que formemos uma teoria verdadeira, jamais poderemos sabê-lo, pois as consequências de uma teoria são infinitas e nós não as podemos verificar todas. Sendo assim, segundo Popper, a verdade é um ideal regulador. Eliminando os erros das teorias anteriores e substituindo-as por teorias mais verosímeis, aproximamo-nos da verdade. Para Popper, é nisso que consiste o progresso da ciência — e, por exemplo, é assim que se passa, progredindo sempre para teorias mais verdadeiras, de Copérnico a Galileu, de Galileu a Keppler, de Keppler a Newton, de Newton a Einstein.
Com isso, porém, não devemos pensar que exista uma lei de progresso da ciência, pois a ciência também pode estagnar. O progresso da ciência conheceu obstáculos (epistemológicos, ideológicos, económicos, etc.) e talvez venha a conhecê-los. Não existe lei do progresso na ciência. Este faz-se por meio de "revoluções intelectuais e científicas", estas "são introduzidas a partir de falsificações bem sucedidas. ...As teorias não são resultado directo das refutações; foram realizações do pensamento criativo, do homem pensante ". Popper diz que temos um critério de progresso: uma teoria pode aproximar-se mais da verdade do que outra.
Saliente-se que a ideia de "aproximação à verdade" nada tem em comum com a ideia de acréscimo gradual de pormenores na teoria que a deixariam, no essencial, igual a si mesma. As teorias refutadas integram o processo de aproximação à verdade por terem provocado a criação de teorias melhores:
"A afirmação de que a Terra está em repouso e que os céus giram à volta dela está mais longe da verdade do que a afirmação de que a Terra gira em torno do seu próprio eixo, de que é o Sol que está em repouso e os outros planetas se movem em órbitas circulares à volta do Sol (tal como foi avançado por Copérnico e Galileu). A afirmação, que se deve a Keppler, de que os planetas não se movem em círculos, mas sim em elipses (não muito alongadas) com o Sol no seu foco comum (e com o Sol em repouso ou em rotação à volta do seu eixo) é mais uma aproximação à verdade. A afirmação (que se deve a Newton) de que existe um espaço em repouso, mas que, excluindo a rotação, a sua posição não se pode encontrar através da observação das estrelas ou dos efeitos mecânicos é mais um passo em direcção à verdade."»
G. Reale, D. Antisieri, História da Filosofia, III, EP, p.p. 1042-1046
THOMAS KUHN
A reflexão de Kuhn sobre a natureza da actividade científica articula-se em três conceitos fundamentais: os conceitos de "paradigma", "ciência normal" e "ciência extraordinária".
a) Paradigma
Numa determinada época do desenvolvimento da ciência, as investigações científicas são orientadas e estruturadas por um paradigma, isto é, por uma visão do mundo (Weltanschaung), que, sendo geral, inclui não só a teoria científica dominante como também princípios filosóficos, uma determinada concepção metodológica, leis e procedimentos técnicos padronizados para resolver problemas.
Assim, o paradigma científico dominante no século XVII, a teoria de Newton, tinha como pressuposto uma representação filosófica da natureza (fundava-se na concepção antiteleológica do mundo natural, concebendo-o como um sistema mecânico regido pelo jogo de forças), apoiava-se nas leis do movimento formuladas pelo próprio Newton, na adopção de uma determinada metodologia (matematização da física) e na opção por determinadas técnicas de observação e de experimentação.
A constituição de um paradigma instaura a comunidade dos sábios (para Kuhn, a ciência é obra de comunidades científicas e não de génios isolados) e define não só o meio de solucionar os problemas como também os problemas que convém resolver.
b) A ciência normal e a ciência extraordinária
No período da ciência normal, a comunidade científica trabalha a partir do paradigma estabelecido. Procede investigando fenómenos ainda não explicados com o objectivo de os enquadrar na teoria dominante e de resolver pequenas ambiguidades teóricas. No período da ciência normal — cujo desenvolvimento é contínuo — o cientista, uma vez que a sua preocupação essencial é a de, ao resolver problemas, estender o campo de aplicação do paradigma, abstém-se, quanto ao que é fundamental, de criticar este. Reina o acordo geral e a investigação desenvolve-se no interior do paradigma. E quando um facto coloca um problema recalcitrante, que resiste ao enquadramento na teoria consensualmente em vigor é, geralmente, descartado como "anomalia", para não ameaçar o consenso no interior da comunidade científica.
Contudo, a acumulação de anomalias, isto é, de casos problemáticos que o paradigma não resolve,
acaba por dar origem a períodos de crise [um paradigma, dada a sua generalidade e complexidade, é sempre suficientemente impreciso para que se tornem possíveis estas "crises"]: as "anomalias", ameaçando o paradigma nos seus próprios fundamentos, são momentos críticos — pense-se na crise da física determinista desde 1924 — porque o consenso dá lugar à divisão, à formação de grupos que procuram outras teorias e outros fundamentos. A este período crítico dá Kuhn o nome de ciência extraordinária.
c) Revolução científica
O momento de crise — que pode ser longo — só encontra o seu termo quando um novo paradigma é adoptado. Como todo o paradigma representa um modo geral de interpretar o mundo e não um simples conjunto de soluções parciais ou regionais, ele corresponde a uma revolução científica e exige uma espécie de conversão mental por parte de quem o adopta. Estabelecido o paradigma, segue-se um novo período de ciência normal. Os cientistas irão aprofundar teoricamente o novo paradigma, resolver os problemas de acordo com ele, i. e., com os novos modos de solução assimilados, evitando pôr em causa esse modelo [por isso, dirá Kuhn, a comunidade científica não é dirigida pelo ideal de verdade]. As revoluções científicas não são muito frequentes: acontecem de vez em quando, o que denota uma certa resistência dos cientistas à mudança.
A que se deve o triunfo de um novo paradigma?
«O triunfo de um novo paradigma pode dever-se a uma grande variedade de factores: a sua capacidade para explicar factos polémicos persistentes, a sua utilidade na resolução de problemas e realização de previsões adequadas e, em não menor medida, a aura e o prestígio dos cientistas que inventam uma nova teoria e a defendem. O prestígio pessoal de um cientista", diz Kuhn "é muitas vezes considerado como sendo o resultado ou a prova de um excepcional engenho e inteligência. Mas pode também dever-se ao facto de ter apoios e amizades influentes no mundo das finanças e da política. Para que uma nova teoria se imponha, o seu inventor deve ter uma posição relativamente elevada na hierarquia universitária e facilidade no acesso a financiamento para a investigação."
Jenny Teichman e Katherine Evans, Philosophy: a Beginner's Guide, Blackweel, p. 146
Deste modo, a mudança de paradigma não obedece a critérios simplesmente racionais e científicos (não é somente a sua eficácia teórica e técnica, a capacidade de resolver mais problemas que os paradigmas "rivais", que conta).
A grande diferença entre Kuhn e Popper reside no facto de a mudança de paradigma não ser obra de uma racionalidade crítica: ao mudar o paradigma, substituem-se teorias, meios, hábitos de trabalho e também os objectivos — adoptam-se práticas distintas que não são alinháveis segundo o esquema da "aproximação à verdade" de Popper.













Conclusão
Abordamos neste trabalho varias ideias sobre a teoria do conhecimento, sobre a qual observamos varias concepções divergentes acerca do mesmo, tais como o empirismo, racionalismo, entre outros.




















Bibliografia
GEQUE, Eduardo e BIRIATE, Manuel, Filosofia 11ª – pré-universitário «Teoria do conhecimento», 1ª edicao, Maputo Logman Moçambique, 2010, pp. 75-119

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