Introdução
Neste presente trabalho iremos
abordar sobre teorias do conhecimento, conhecimento este que é o ato ou efeito de abstrair ideia ou noção de alguma coisa, estaremos a abordar vários
assuntos como conceitos, origem do conhecimento entre outros assuntos
relacionados a teoria do conhecimento.
Teoria do
Conhecimento
Noções Básicas
A necessidade de procurar explicar o mundo dando-lhe
um sentido e descobrindo-lhe as leis ocultas é tão antiga como o próprio Homem,
que tem recorrido para isso quer ao auxílio da magia, do mito e da religião,
quer, mais recentemente, à contribuição da ciência e da tecnologia. Mas é sobretudo
nos últimos séculos da nossa História, que se tem dado a importância crescente
aos domínios do conhecimento e
da ciência. E se é certo que a
preocupação com este tipo de questões remonta já à Grécia antiga, é porém a
partir do séc. XVIII que a palavra ciência adquire um sentido mais preciso e
mais próximo daquele que hoje lhe damos. É também sobretudo a partir desta
época que as implicações da actividade científica na nossa vida quotidiana se
têm tornado tão evidentes, que não lhe podemos ficar indiferentes. O que é o conhecimento científico, como se
adquire, o que temos implícito quando dizemos que conhecemos determinado
assunto, em que consiste a prática científica, que relação existe entre o
conhecimento científico e o mundo real, quais as consequências práticas e
éticas das descobertas científicas, são alguns dos problemas com que nos
deparamos frequentemente. Diante desses questionamentos, este trabalho pretende
fazer um apanhado geral acerca da Teoria do Conhecimento, suas correntes e
representantes, de modo que se torne mais fácil a sua compreensão.
Conceito
A teoria do
conhecimento, se interessa pela investigação da natureza, fontes e
validade do conhecimento. Entre as questões principais que ela tenta responder
estão as seguintes. O que é o conhecimento? Como nós o alcançamos? Podemos
conseguir meios para defendê-lo contra o desafio céptico? Essas questões são,
implicitamente, tão velhas quanto a filosofia. Mas, primordialmente na era
moderna, a partir do século XVII em diante - como resultado do trabalho de
Descartes (1596-1650) e Locke (1632-1704) em associação com a emergência da ciência
moderna – é que ela tem ocupado um plano central na filosofia. Basicamente é
conceituada como o estudo de assuntos que outras ciências não conseguem
responder e se divide em quatro partes, sendo que três delas possuem correntes
que tentam explica-las: I - O conhecimento como problema, II - Origem do
Conhecimento e III - Essência do Conhecimento e IV - Possibilidade do
Conhecimento.
Elementos do conhecimento
O homem (sujeito) adquire o
conhecimento (objecto) pela razão. Segundo a teoria do conhecimento, as fontes
de conhecimento vem com a experiência, a capacidade não pode ser comparada com
a capacitação pois com a experiência aprendemos a lidar e a não cometer os
mesmos erros. E vemos que o sujeito é activo em relação ao objecto.
Perspectivas da
análise do conhecimento
Abordagem
científica
Filogenética: A filogénese estuda a história da
evolução humana, nomeadamente a constituição dos seres humanos como sujeitos
cognitivos. A paleontologia humana, baseada em inúmeras investigações, afirma
que os homens nem sempre tiveram a mesma constituição e capacidades. A explicação
mais consensual é que a evolução da nossa constituição morfológica e funcional,
foi feita em simultâneo com o desenvolvimento das nossas capacidades cognitivas
(memória, linguagem e pensamento) e esta de forma articulada com o
desenvolvimento das nossas realizações e capacidades técnicas. Todos estes
factores de forma inter-relacionada contribuíram para gerarem a espécie que
somos.
Ontogenética:
O conhecimento é encarado como um processo de modificações e adaptações ao meio
que desde o nascimento ocorre em todos os seres vivos. Segundo diversos
autores, a ontogénese repete a filogenese, isto é, o desenvolvimento da
humanidade é como que repetido no desenvolvimento de cada ser.
Jean Piaget (1896-1980), começou por estudar o modo como, em
cada indivíduo se desenvolve a faculdade de raciocinar (abordagem genética)
considerando, deste modo, que esta faculdade não está pré-constituída
aquando do nascimento de uma criança. Chegou à conclusão de que na origem
do conhecimento estaria um processo dinâmico em que há uma permanente
interacção entre o sujeito e o objecto. O estudo deste processo de constitutivo das nossas
capacidades cognitivas, conduziu Piaget a descobrir quatro grandes
períodos ou estádios que são caracterizados em função das capacidades, de que
um indivíduo dispõe para a apreensão e organização da realidade. 1. Estádio da
inteligência sensório-motora (do nascimento aos 2 anos); 2. Estádio da
inteligência pré-operatória (dos 2 aos 7 anos); 3. Estádio das operações
concretas dos 7 anos 12 anos); 4. Estádio das operações formais ou
abstractas. Cada estádio representa uma forma de equilíbrio mais
estável. Nesta perspectiva não existem estruturas inatas. Inata é apenas a
necessidade de adaptação ao meio. Esta perspectiva do conhecimento é hoje
denominada por construtivismo.
A perspectiva da sociologia do
conhecimento
Para Karl Marx o conhecimento humano é condicionado pelo meio
social que molda o sujeito. De um modo geral, o dogmatismo é uma espécie de fundamentalismo senso comum. Os dogmas expressam verdades talvez não certas,
indubitáveis e não sujeitas a qualquer tipo de revisão ou crítica. Deve-se ao
filósofo alemão Immanuel Kant (1724 - 1804) e à obra Crítica da Razão Pura o significado filosoficamente pejorativo do termo.
Abordagem
Filosófica
Análise
fenomenológica do acto de conhecimento: Em todo o conhecimento, um
"cognoscente" e um "conhecido", um sujeito e um objecto
encontram-se face a face. A relação que existe entre os dois é o próprio
conhecimento. A oposição dos dois termos não pode ser suprimida; esta oposição
significa que os dois termos são originariamente separados um do outro,
transcendentes um ao outro.
Os dois termos da relação não podem ser separados dela sem
deixar de ser sujeito e objecto. O sujeito só é sujeito em relação a um objecto
e o objecto só é objecto em relação a um sujeito. Cada um deles é o que é em
relação ao outro. Estão ligados um ao outro por uma estreita relação;
condicionam-se reciprocamente. A sua relação é uma correlação.
A relação constitutiva do conhecimento é dupla, mas não é
reversível. O facto de desempenhar o papel de sujeito em relação a um objecto é
diferente do facto de desempenhar o papel de objecto em relação a um sujeito.
No interior da correlação, sujeito e objecto não são, portanto, permutáveis, a
sua função é na sua essência diferente. (...)
A função do sujeito consiste em apreender o objecto; a do
objecto em poder ser apreendido pelo sujeito e em sê-lo efectivamente.
Considerada do lado do sujeito, esta apreensão pode ser descrita
como uma saída do sujeito para fora da sua própria esfera e como uma incursão
na esfera do objecto, a qual é, para o sujeito, transcendente e heterogénea. O
sujeito apreende as determinações do objecto e, ao aprendê-las, introdu-las,
fá-las entrar na sua própria esfera.
O sujeito não pode captar as propriedades do objecto senão
fora de si mesmo, pois a oposição do sujeito e do objecto não desaparece na
união que o acto do conhecimento estabelece entre eles; permanece
indestrutível. A consciência dessa oposição é um aspecto essencial da
consciência do objecto. O objecto, mesmo quando é apreendido, permanece para o
sujeito algo exterior; é sempre o objectum,
quer dizer, o que está diante dele. O sujeito não pode captar o objecto sem
sair de si (sem se transcender); mas não pode ter consciência do que é
apreendido, sem entrar em si, sem se reencontrar na sua própria esfera. O
conhecimento realiza-se, por assim dizer, em três tempos: o sujeito sai de si,
está fora de si e regressa finalmente a si.
O facto de que o sujeito saia de si para apreender o objecto
não muda nada neste. O objecto não se torna por isso imanente. As
características do objecto, se bem que sejam apreendidas e como que
introduzidas na esfera do sujeito, não são, contudo, deslocadas. Apreender o
objecto não significa fazê-lo entrar no sujeito, mas sim reproduzir neste as
determinações do objecto numa construção que terá um conteúdo idêntico ao do
objecto. Esta construção operada no conhecimento é a "imagem" do
objecto. O objecto não é modificado pelo sujeito, mas sim o sujeito pelo
objecto. Apenas no sujeito alguma coisa se transformou pelo acto do
conhecimento. No objecto nada de novo foi criado; mas no sujeito nasce a
consciência do objecto com o seu conteúdo, a imagem do objecto.
Problemas e correntes filosóficas da teoria de conhecimento
Possibilidade do Conhecimento
Essa parte da teoria do conhecimento é responsável por
solucionar a seguinte questão: qual a possibilidade do conhecimento?
Para que seja possível respondê-la, muitos autores recorrem
a duas importantes posições: o dogmatismo e o ceticismo, os quais veremos
abaixo.
• Dogmatismo
É a corrente que se julga em condições de afirmar a
possibilidade de conhecer verdades universais quanto ao ser, à existência e à
conduta, transcendendo o campo das puras relações fenomenais e sem limites
impostos a priori à razão.
Existem duas espécies de dogmatismo: o total e o parcial.
O primeiro é aquele em que a afirmação da possibilidade de
se alcançar a verdade ultima é feita tanto no plano da especulação, quanto no
da vida pratica ou da Ética. Esse dogmatismo intransigente, quase não é
adotado, devido à rigorosidade de adequação do pensamento. Porém, encontramos
em Hegel a expressão máxima desse tipo de dogmatismo, pois, existe em suas
obras uma identificação absoluta entre pensamento e realidade. Como o próprio
autor diz “o pensamento, na medida em que é, é a coisa em si, e a coisa em si,
na medida em que é, é o pensamento puro”.
Já o parcial, adotado em maior extensão, tem um sentido mais
atenuado, na intenção de afirmar-se a possibilidade de se atingir o absoluto em
dadas circunstâncias e modos quando não sob certo prisma. Ou seja, é a crença
no poder da razão ou da intuição como instrumentos de acesso ao real em si.
Alguns dogmáticos parciais se julgam aptos para afirmar a
verdade absoluta no plano da ação. Entretanto, outros somente admitem tais
verdades no plano especulativo. Daí origina-se a distinção entre dogmatismo
teórico e dogmatismo ético.
O dogmatismo ético tem como adeptos Hume e Kant, que
duvidavam da possibilidade de atingir as verdades últimas enquanto sujeito
pensante (homo theoreticus) e afirmavam as razões primordiais de agir,
estabelecendo as bases de sua Ética ou de sua Moral.
Por conseguinte, temos como adepto do dogmatismo teórico,
Blaise Pascal, que não duvidava de seus cálculos matemáticos e da exatidão das
ciências enquanto ciências, mas era assaltado por duvidas no plano do agir ou
da conduta humana.
Dogmatismo é uma atitude natural e espontânea que temos desde
criança com senso. É uma tendência a crer que o mundo é do jeito que
aprendemos. Dogmatismo espontâneo é
uma atitude de quem julga conhecer as coisas como elas são, é uma crença que,
como tal, não permite reflexão ou crítica. Dogmatismo
crítico é o contrário do espontâneo ela admite a possibilidade de do homem
conhecer mas este não é perfeito e total.
• Cepticismo
Consiste numa atitude dubitativa ou uma provisoriedade
constante, mesmo a respeito de opiniões emitidas no âmbito das relações
empíricas. Essa atitude nunca é abandonada pelo ceticismo, mesmo quando são
enunciados juízos sobre algo de maneira provisória, sujeitos a refutação à luz
de sucessivos testes.
Ou seja, o ceticismo se distingue das outras correntes por
causa de sua posição de reserva e de desconfiança em relação às coisas.
Há no ceticismo – assim como no dogmatismo – uma distinção
entre absoluto e parcial, ressaltando que este último não será discutido nesse
trabalho.
O ceticismo absoluto é oriundo da Grécia e também denominado
pirronismo. Prega a necessidade da suspensão do juízo, dada a impossibilidade
de qualquer conhecimento certo. Ele envolve tanto as verdades metafísicas (da
realidade em si mesma), quanto as relativas ao fundo dos fenômenos. Segundo
essa corrente, o homem não pode pretender nenhum conhecimento por não haver
adequação possível entre o sujeito cognoscente e o objeto conhecido. Ou seja,
para os céticos absolutos, não há outra solução para o homem senão a atitude de
não formular problemas, dada a equivalência fatal de todas as respostas.
Um dos representantes do ceticismo de
maior destaque na filosofia moderna é Augusto Comte.
As teorias do conhecimento que se
desenvolveram na Antiguidade e na Idade Média não colocavam em dúvida a
possibilidade de conhecer a realidade tal qual ela é. Contudo as influências do
Renascimento levaram, a partir do século XVII, ao questionamento da
possibilidade do conhecimento, dando, nas respostas ensaiadas, origem às
teorias empiristas e racionalistas. Kant supera essa dicotomia, concluindo que
o conhecimento só é possível pela conjunção das suas fontes: a sensibilidade e
o entendimento.A sensibilidade dá a matéria e o entendimento as formas do
conhecimento. O criticismo kantiano tinha como objetivo principal a critica das
faculdades cognitivas do homem, no sentido de conhecermos os seus limites. Em
consequência dessa «crítica», foi levado à negação da possibilidade de a razão
humana conhecer a essência das coisas (númeno).
Para Peirce o significado de qualquer conceito é a soma de
suas todas consequências possíveis.
Para William James a utilidade da filosofia deveria ser
investigar apenas o que realmente faz diferença na nossa vida prática. Assim,
ele vai contra as reflexões filosóficas abstratas e insuficientes, princípios
fixos e absolutos, sistemas fechados e teorias sobre origens. James defende que
teorias são instrumentos e não respostas para enigmas, pois respostas nos
permitem descansar tranquilos enquanto instrumentos somente são úteis quando
utilizados com finalidades práticas. Nas palavras de William James e Francis Schaeffer, o pragmatismo defende que o sentido
de tudo está na utilidade - ou efeito prático - que qualquer ato, objeto ou
proposição possa ser capaz de gerar. Uma pessoa pragmatista vive pela lógica de
que as ideias e atos de qualquer pessoa somente são verdadeiros se servem à
solução imediata de seus problemas. Nesse caso, define-se como verdade o conjunto de todas as suas
consequências práticas relativas a determinado contexto. Por exemplo: uma
religião só é boa quando tiver como consequência indivíduos mais generosos,
pacíficos e felizes. O que torna verdadeira a afirmação de que ela é boa são
suas consequências. E a filosofia deve estudar o que faz gerar essas
consequências e como usá-las para tornar a sociedade um lugar melhor.
O pragmatismo refuta a perspectiva de que o intelecto e os
conceitos humanos podem, só por si, representar adequadamente a realidade.
Dessa forma, opõe-se tanto às correntes formalistas quanto às correntes racionalistas da filosofia. Antes, defende que as
teorias e o conhecimento só adquirem significado através da luta de organismos
inteligentes com o seu meio. Não defende, no entanto, que seja verdade
meramente aquilo que é prático ou útil ou o que nos ajude a sobreviver a curto
prazo. Os pragmatistas argumentam que se deve considerar como verdadeiro aquilo
que mais contribui para o bem estar da humanidade em geral, no mais longo prazo
possível.
O Conhecimento Quanto à Origem
A polêmica racionalismo-empirismo tem sido uma das mais persistentes
ao longo da história da filosofia, e encontra eco ainda hoje em diversas
posições de epistemólogos ou filósofos da ciência. Abundam, ao longo da linha
constituída nos seus extremos pelo racionalismo e pelo empirismo radicais, as
posições intermédias, as tentativas de conciliação e de superação, como veremos
a seguir.
• Empirismo
“O empirismo pode ser definido como a asserção de que todo
conhecimento sintético é baseado na experiência.” (Bertrand Russell).
Conceitua-se empirismo, como a corrente de pensamento que
sustenta que a experiência sensorial é a origem única ou fundamental do
conhecimento.
Originário da Grécia Antiga, o empirismo foi reformulado
através do tempo na Idade Média e Moderna, assumindo várias manifestações e
atitudes, tornando-se notável as distinções e divergências existentes. Porém, é
notório que existem características fundamentais, sem as quais se perde a
essência do empirismo e a qual, todos os autores conservam, que é a tese de que
todo e qualquer conhecimento sintético haure sua origem na experiência e só é
válido quando verificado por fatos metodicamente observados, ou se reduz a
verdades já fundadas no processo de pesquisa dos dados do real, embora, sua
validade lógica possa transcender o plano dos fatos observados.
Como já foi dito anteriormente, existe no empirismo
divergência de pensamentos, e é exatamente esse aspecto que abordaremos a
seguir. São três, as linhas empíricas, sendo elas: a integral, a moderada e a
científica.
O empirismo integral reduz todos os conhecimentos –
inclusive os matemáticos – à fonte empírica, àquilo que é produto de contato
direto e imediato com a experiência. Quando a redução é feita à mera
experiência sensível, temos o sensismo (ou sensualismo). É o caso de John
Stuart Mill, que na obra Sistema da Lógica diz que todos os conhecimentos
científicos resultam de processos indutivos, não constituindo exceção as
verdades matemáticas, que seriam resultado de generalizações a partir de dados
da experiência. Ele apresenta a indução como único método científico e afirma
que nela resolvem-se tanto o silogismo quanto os axiomas matemáticos.
O empirismo moderado, também denominado
genético-psicológico, explica que a origem temporal dos conhecimentos parte da
experiência, mas não reduz a ela a validez do conhecimento, o qual pode ser
não-empiricamente valido (como nos casos dos juízos analíticos). Uma das obras
baseadas nessa linha é a de John Locke (Ensaios sobre o Entendimento Humano),
na qual ele explica que as sensações são ponto de partida de tudo aquilo que se
conhece. Todas as idéias são elaborações de elementos que os sentidos recebem
em contato com a realidade.
Como já foi dito, para os moderados há verdades
universalmente validas, como as matemáticas, cuja validez não assenta na
experiência, e sim no pensamento. Na doutrina de Locke, existe a admissão de
uma esfera de validade lógica a priori e, portanto não empírica, no que
concerne aos juízos matemáticos.
Por fim, há o empirismo científico, que admite como válido,
o conhecimento oriundo da experiência ou verificado experimentalmente,
atribuindo aos juízos analíticos significações de ordem formal enquadradas no
domínio das fórmulas lógicas. Esta tendência está longe de alcançar a almejada
“unanimidade cientifica”.
• Racionalismo
É a corrente que assevera o papel preponderante da razão no
processo cognoscitivo, pois, os fatos não são fontes de todos os conhecimentos
e não nos oferecem condições de “certeza”.
Um dos grandes representantes do racionalismo, Gottfried
Leibniz, afirma em sua obra Novos Ensaios sobre o Entendimento Humano, que nem
todas as verdades são verdades de fato; ao lado delas, existem as verdades de
razão, que são aquelas inerentes ao próprio pensamento humano e dotadas de
universalidade e certeza (como por exemplo, os princípios de identidade e de
razão suficiente), enquanto as verdades de fato são contingentes e
particulares, implicando sempre a possibilidade de correção, sendo válidas
dentro de limites determinados.
Ainda retratando o pensamento racionalista, encontramos
Reneé Descartes, adepto do inatismo, que afirma que somos todos possuidores,
enquanto seres pensantes, de uma série de princípios evidentes, idéias natas,
que servem de fundamento lógico a todos os elementos com que nos enriquecem a
percepção e a representação, ou seja, para ele, o racionalismo se preocupa com
a idéia fundante que a razão por si mesma logra atingir.
Esses dois pensadores podem ser classificados como
representantes do racionalismo ontológico, que consiste em entender a realidade
como racional, ou em racionalizar o real, de maneira que a explicação
conceitual mais simples, se tenha em conta da mais simples e segura explicação
da realidade.
Existe também uma outra linha racionalista, originada de
Aristóteles, denominada intelectualismo, que reconhece a existência de
“verdades de razão” e, além disso, atribui à inteligência função positiva no
ato de conhecer, ou seja, a razão não contém em si mesma, verdades universais
como idéias natas, mas as atinge à vista dos fatos particulares que o intelecto
coordena. Concluindo: o intelecto extrai os conceitos ínsitos no real, operando
sobre as imagens que o real oferece.
Hessen, um dos adeptos do intelectualismo, lembra que há
nele uma concepção metafísica da realidade como condição de sua gnoseologia,
que é conceber a realidade como algo de racional, contendo no particularismo
contingente de seus elementos, as verdades universais que o intelecto “lê” e
“extrai”, realizando-se uma adequação plena entre o entendimento e a realidade,
no que esta tem de essencial.
Por fim, devemos citar uma ramificação do racionalismo que
alguns autores consideram autônoma, que é o Criticismo.
O criticismo é o estudo metódico prévio do ato de conhecer e
dos modos de conhecimento, ou seja, uma disposição metódica do espírito no
sentido de situar, preliminarmente o problema do conhecimento em função da
relação “sujeito-objeto”, indagando as suas condições e pressupostos. Ele
aceita e recusa certas afirmações do empirismo e racionalismo, por isso, muitos
autores acreditam em sua autonomia. Entretanto, devemos entender tal posição
como uma análise crítica e profunda dos pressupostos do conhecimento.
Seu maior representante, Immanuel Kant, tem como marca a
determinação a priori das condições lógicas das ciências. Ele declara que o
conhecimento não pode prescindir da experiência, a qual fornece o material
cognoscível e nesse ponto coincide com o empirismo. Porém, sustenta também que
o conhecimento de base empírica não pode prescindir de elementos racionais,
tanto que só adquire validade universal quando os dados sensoriais são
ordenados pela razão. Segundo palavras do próprio autor, “os conceitos sem as
intuições são vazios; as intuições sem os conceitos são cegas”.
Para ele, o conhecimento é sempre uma subordinação do real à
medida do humano.
Conclui-se então, que pela ótica do criticismo, o
conhecimento implica sempre numa contribuição positiva e construtora por parte
do sujeito cognoscente em razão de algo que está no espírito, anteriormente à
experiência do ponto de vista gnosiológico.
Apriorismo é
uma teoria explicativa da origem do conhecimento, inserida nas concepções
clássicas (fundadas num modelo fenomenológico), elaborada por Kant. Define que
a elaboração do conhecimento científico é fruto de, numa primeira fase,
captação sensorial da realidade - númeno - de forma limitada (pelos nossos
próprios sentidos) - fenómeno - através de estruturas a priori no indivíduo
(formas a priori da sensibilidade - espaço e tempo) elaborando-se assim
percepções, isto é, sensações estruturadas pelas formas a priori. Estas
percepções irão depois passar à fase do entendimento, onde, pela ascensão ao
longo de 12 categorias (as formas a priori do entendimento), aproximarão esta
percepção dum verdadeiro conhecimento científico. De notar que as formas organizadoras
não mais são que estruturas do sujeito desprovidas de qualquer valor material,
que serão "preenchidas" pelos dados recolhidos pelos sentidos.
Estabelece-se igualmente a distinção entre conhecimento científico e razão,
visto que este último refere-se a idéias, localizadas num plano eidético,
inteligível.
REVOLUÇÃO COPERNICANA NA TEORIA DO CONHECIMENTO
Na história da astrofísica, chama-se revolução copernicana aquela em que o célebre astrônomo polonês Nicolau Copérnico (1473-1543), fugindo à geral convicção de que a terra ocupava o centro de nosso sistema (geocentrismo), passou a ensinar e comprovar que a terra, até então considerada o centro, nada mais era do que um pequeno planeta girando, como muitos outros, em torno do sol, a grande estrela, esta, sim, o centro de gravitação de todo o sistema (heliocentrismo). Raios de condenação caíram sobre Copérnico, arremessados por aqueles que se consideravam, na época, os detentores do monopólio da verdade. No campo da teoria do conhecimento, o filósofo alemão Emanuel Kant (1724-1804) fez uma revolução semelhante à que Copérnico fizera no mundo dos astros. Até então, o objeto a ser conhecido era o centro na dinâmica do conhecimento; em torno dele, giravam os sujeitos, a saber, os seres humanos, buscando, a todo custo, conhecer o objeto, sem questionar os seus próprios limites. Kant disse o contrário: no centro do processo de conhecimento, está o sujeito; em torno do sujeito, giram os diversos objetos. Alguns o sujeito capta; outros, não. O conhecimento se adquire na medida do sujeito, isto é, na medida de sua capacidade, naturalmente limitada, havendo objetos que escapam à antena do conhecimento humano.
Realmente, e foi Kant quem deu o alerta, é muita arrogância querer que todo e qualquer objeto caia na pequena rede de nosso conhecimento. A capacidade que o ser humano tem de conhecer é limitada. Kant teve uma posição filosófica humilde, realista. A essa mudança de centro na teoria do conhecimento se dá, por analogia, o nome de revolução copernicana. Isso tem implicações em nosso dia a dia, pois há coisas que extrapolam nossa esfera de conhecimento. Exemplos: Deus existe? O que é Deus? Quem é Deus? O que acontece com o ser humano após a morte? A vida prossegue? Como?
Como esses, existem muitos outros questionamentos cujas respostas transcendem, estão além de nossa capacidade. Em vez de se aventurar em explicações simplórias, ingênuas, não seria mais sensato cada um conscientizar-se de seus limites e reconhecer, como Sócrates: só sei que nada sei? Por que essa presunção de conhecer todo objeto, real ou imaginário, que se coloca à nossa frente? O que sabemos é uma gota d´água; o que não sabemos é um oceano. Atitude científica, atitude de pesquisa, sim; mas com consciência de nossos limites. Essa autocrítica nos fará evitar muitos conflitos ideológicos, com cheiro de radicalismo, verdadeiros muros de separação, cimentados de intolerância e que levam a nada. A humildade, que é filha da realidade, nos irmana muito mais do que as verdades impostas.
A natureza do conhecimento
Ezistem
duas correntes que defendem a natuza do conhecimento:
Realismo:
O
realista conhece, prova, afirma a existência da
razão objetiva. o
realismo, por oposição ao idealismo, responde à questão da natureza ou essência
do conhecimento. Sustenta o princípio da transcendência do objecto em relação
ao sujeito para afirmar, deste modo, a total e completa independência entre a
realidade e a consciência. Trata-se, pois, de uma atitude epistemológica
segundo a qual há coisas reais, independentes da consciência.
O
realismo subdivide-se em duas modalidades: realismo crítico e ingénuo,
constituindo, este último, a atitude específica do senso comum enquanto que a
primeira forma resulta de uma atitude que assenta em considerações de natureza
crítica do conhecimento.
Idealismo: O idealista pensa, desenvolve teorias, afirma a razão subjetiva, ou seja, a razão em relação aos sentimentos.
O idealismo, no seu sentido
epistemológico, afirma o princípio da imanência do objecto em relação ao
sujeito, ou seja, sustenta a tese de que
não há coisas reais, independentes da consciência. É comum apontar-se Berkeley
como o representante clássico desta corrente, uma vez que encontrou a fórmula
exacta para o ponto de vista do idealismo: "Ser é ser percebido".
Valor do Conhecimento
Existem duas correntes no valor do conhecimento, que é o absolutismo
que afirma não so a objectividade do conhecimento, como também lhe confere um
valor absoluto. Portanto não restam duvidas sobre o valor do conhecimento e não
apresenta nenhum limite, e o relativismo este atribui valores
simplesmente relativo ao conhecimento.
Os
níveis de conhecimento
A tradicional divisão dos níveis de
conhecimento mostra-se, a um exame mais acurado, extremamente frágil. Os
limites entre os quatro níveis não são claros, e pode-se até questionar o
porquê da não-inclusão, por exemplo, das artes como uma forma de conhecimento.
Não seria o romance uma forma de mídia para a transmissão de um certo tipo de
conhecimento? Além disso, não se estabelece espaço, nessa divisão, para agrupar
(e por conseqüência explicar) as chamadas pseudociências, tais como a
paranormalidade e a astrologia. E poderíamos ainda perguntar: onde se
classificam as ciências humanas? Entre os conhecimentos científicos?
Filosóficos? Ou fora do conjunto dos conhecimentos?
Essa divisão, portanto, não deve ser tomada a ferro e
fogo. De qualquer forma, como os níveis de conhecimento constituem-se em tema
recorrente nos textos sobre metodologia, pode-se aproveitá-los para algumas
breves reflexões.
1. Conhecimento popular ou empírico
Também
denominado bom senso ou senso comum, é aquele que todo ser humano desenvolve,
no contato direto e diário com a realidade. Todo ser humano comum bem informado
é lógico nos seus arrazoados. Conhece muito sobre o mundo em que vive. Como tal
fornece aos outros “receitas infalíveis, conselhos e informações
preciosas”. As mulheres que já tiveram filhos dão consultas gratuitas para as
principiantes que lutam contra os problemas do primeiro filho. Quando alguém
está com dor-de-cabeça, sempre aparece um “especialista” que conhece um
comprimido eficaz, que alivia a dor rapidamente. Mas, ignora a composição do
medicamento, a natureza da dor e a forma de atuação do medicamento. Este tipo
de conhecimento, superficial, por informação ou experiência casual, recebe o
nome de conhecimento vulgar ou empírico.
Sobre o conhecimento vulgar podemos dizer ainda que é
comum e possível a todo ser humano, de qualquer nível cultural. Não
questiona, não analisa, não exige demonstração, é ocasional e assistemático.
Vale dizer que o conhecimento vulgar atinge as coisas, enquanto o conhecimento
científico estuda sua constituição íntima e suas causas.
Estrutura-se como um conjunto de crenças e
opiniões, utilizadas em geral para objetivos práticos. É basicamente desenvolvido
por meio dos sentidos, e não tem intenção de ser profundo, sistemático e/ou
infalível.
2. Conhecimento religioso ou teológico
O fundamento do conhecimento religioso é a fé.
Não é preciso ver para crer, e a crença ocorre mesmo que as evidências apontem
no sentido contrário. As verdades religiosas são registradas em livros sagrados
ou são reveladas por seres espirituais, por meio de alguns iluminados, santos
ou profetas. Essas verdades são quase sempre definitivas e não permitem revisões
mediante reflexão ou experimentos. Portanto o conhecimento religioso é um
conhecimento mítico, dogmático ou ainda espiritual.
3. Conhecimento filosófico
A Filosofia surge como um saber que procura diferenciar-se dos mitos, das
retóricas e dos sofistas, das tragédias e dos poetas, e a partir de então se
estabelece por séculos como um espaço de liberdade de pensamento, desafiando a
lei de que o conhecimento pode tornar-se ultrapassado ou superado com o passar
do tempo, com novas experiências ou com o surgimento de novos instrumentos de
observação. A Filosofia é a ciência mãe, da qual foram, pouco a pouco,
separando-se formas de pensar e métodos que mais tarde se especializaram e se
tornaram independentes, e que hoje consideramos ciência. Mesmo assim, ainda
hoje, é difícil estabelecer contornos que separam o conhecimento filosófico de
outros tipos de conhecimento.
4 Conhecimento científico
Diferentemente do conhecimento vulgar, o conhecimento
científico não atinge simplesmente os fenômenos na sua manifestação global, mas
os atinge em suas causas, na sua constituição íntima, caracterizando-se, desta
forma, pela capacidade de analisar, de explicar, de desdobrar, de justificar,
de induzir ou aplicar leis, de predizer com segurança eventos futuros.
A ciência é fruto da tendência humana para
procurar explicações válidas, para questionar e exigir respostas e
justificações convincentes. Este dinamismo questionador peculiar ao espírito
humano já se manifesta na primeira infância, quando criança multiplica suas
indagações sobre as coisas, chegando mesmo a embaraçar os adultos.
Felizmente ou infelizmente, as crianças acabam aceitando respostas incompletas
e imperfeitas.
Conhecimento científico é expressão que lembra
laboratório, instrumental de pesquisa, trabalho programado, metódico,
sistemático e não faz associações com inspiração mística ou artística,
religiosa ou poética. A expressão conhecimento científico evidencia o caráter
de autoridade, de respeitabilidade, que falta ao conhecimento vulgar.
O conhecimento científico é privilégio de
especialistas das diversas áreas das ciências. É um processo sistemático,
metódico, orgânico, crítico, rigoroso e objetivo. Nasce da dúvida e se
consolida na certeza das leis demonstradas, válidas para todos os casos de
mesma espécie que venham a ocorrer nas mesmas condições.
O conhecimento científico é obtido a partir de
um conjunto de processos determinados pelo homem, como tal, é passível de
interpretações incompletas ou não consistentes por muito tempo. A única
certeza, é a de que, todo conhecimento científico é precário e pode ser
reformulado e reinterpretado a qualquer tempo.
Classificação
das ciências segundo Augusto Comte
A distribuição
sistemática em diversas categorias. — A. Comte classificou as ciências segundo
o grau de complexidade de seus objetos: 1.° as matemáticas não tratam de
objetos reais, mas somente de números; 2.° a astronomia trata de números e de
objetos que não podemos tocar, cujo curso é portanto imutável; 3.° a física
trata de números e de objetos infinitamente mais variáveis e mutáveis: podemos
agir sobre eles e ordená-los em função de nossa experimentação; 4.° a química
acrescenta à complexidade da física reações específicas e qualitativas; 5.° a
biologia acrescenta à complexidade da química o fenômeno da vida; 6.° a
sociologia, por fim, faz intervir, além de tudo isso, o elemento humano. Essa
classificação segundo a ordem de complexidade crescente segue também a ordem
cronológica do desenvolvimento das ciências: as matemáticas representam a
ciência mais antiga e a sociologia, ou ciência do homem, a mais recente.
A questão da verdade
São quatro estados do espírito perante a verdade:
Ignorância - refere-se à falta de conhecimento, sabedoria e
instrução sobre um determinado assunto ou pior quando chega a ser como uma
doença na qual o seu portador desconhece quase tudo tendo em lugar de
conhecimentos plausíveis preconceitos que se interligam fazendo um sistema
ideológico simplificador e redutor.
Duvida - (derivado do latim dubitare) é uma condição psicológica
ou sentimento caracterizado pela ausência de convicção opondo-se à crença/fé e
ao saber. Ela é a incerteza ou desconfiança em relação a uma
ideia, um fato, uma acção, de uma asserção ou de uma decisão. Para que se
estabeleça a dúvida em geral é necessária uma noção de realidade do fato em que existe a suspeita, e
isto pode adiar a decisão de acções relevantes ao fato pois podem estar
incorrectas ou incompletas.
Certeza - é uma condição
psicológica, ou estado mental, de que as coisas são tais quais o indivíduo as
concebe, ou ainda de estar na posse da verdade. Em outras palavras, caracteriza-se pela absoluta adesão a
uma ideia, opinião ou fato, desconsiderando qualquer possibilidade de erro ou
equívoco, sendo logo, um antagonismo à dúvida.
É um procedimento através do qual podemos distinguir a
verdade da falsidade. Citamos o seguinte:
Epistemologia contemporânea
Longa discussão tem sido travada sobre
a perspectiva a adoptar para pensar e descrever a evolução das ciências. Trata-se, sobretudo, de determinar a relação de novos
conhecimentos com os anteriores: os conhecimentos novos são do mesmo tipo que
os anteriores e sua consequência natural (continuísmo)? Os novos conhecimentos rompem com os anteriores e
exigem perspectivas radicalmente novas (descontinuamos)?
Segundo a imagem continuísta e ingénua
do desenvolvimento científico, imagem ainda reinante ao nível do senso comum,
este é um processo linear e acumulativo:
— Linear, porque se desenvolveria sempre na mesma direcção,
"para a frente," isto é, a cientificidade dos conhecimentos seria estabelecida
de uma vez por todas, pelo que não haveria necessidade de a eles retornar;
— Acumulativo, porque os conhecimentos científicos apenas se acumulam, ou seja, os conhecimentos
novos acrescentam-se aos anteriores sem os pôr em questão.
Esta imagem
do desenvolvimento da ciência é solidária de algumas suposições que convém
destacar:
— o conhecimento científico é
conhecimento verificado: isto é,
conhecimento cuja validade foi estabelecida definitivamente. Ora, isso implica
uma outra situação:
— há um método científico e esse método é infalível, quer dizer, é sempre capaz de estabelecer a falsidade ou a verdade das hipóteses;
— a ciência é obra de uma razão arquitectónica, isto é, de uma razão que parte de "fundamentos sólidos" e progride erguendo andar sobre andar, sem interrupções bruscas e sem necessidade de reconstruções;
— o desenvolvimento da ciência é contínuo: as descobertas de um momento da ciência ligam-se directamente às precedentes, um nível de conhecimentos assenta directamente sobre o anterior;
— a nossa aprendizagem, segundo manuais onde os conhecimentos são apresentados, tanto quanto possível, num movimento gradual, contínuo, do mais simples para o mais complexo, faz-nos supor que a história da sua invenção teria um ritmo semelhante;
— na transmissão da ciência são eliminados os passos em falso, os erros, as hipóteses que vigoram durante algum tempo para depois serem eliminadas. A transmissão elimina os factores polémicos, os debates que acompanham todos os momentos da ciência — produzindo, portanto, a imagem de uma ciência que evolui com passos sempre seguros;
— há um método científico e esse método é infalível, quer dizer, é sempre capaz de estabelecer a falsidade ou a verdade das hipóteses;
— a ciência é obra de uma razão arquitectónica, isto é, de uma razão que parte de "fundamentos sólidos" e progride erguendo andar sobre andar, sem interrupções bruscas e sem necessidade de reconstruções;
— o desenvolvimento da ciência é contínuo: as descobertas de um momento da ciência ligam-se directamente às precedentes, um nível de conhecimentos assenta directamente sobre o anterior;
— a nossa aprendizagem, segundo manuais onde os conhecimentos são apresentados, tanto quanto possível, num movimento gradual, contínuo, do mais simples para o mais complexo, faz-nos supor que a história da sua invenção teria um ritmo semelhante;
— na transmissão da ciência são eliminados os passos em falso, os erros, as hipóteses que vigoram durante algum tempo para depois serem eliminadas. A transmissão elimina os factores polémicos, os debates que acompanham todos os momentos da ciência — produzindo, portanto, a imagem de uma ciência que evolui com passos sempre seguros;
Hoje, verifica-se que a ingénua imagem continuísta do
desenvolvimento científico deve ser abandonada. Foram sobretudo factos
interiores ao próprio processo de desenvolvimento das ciências que abalaram
profundamente esta imagem da evolução do saber.
O continuísmo reflectido (por exemplo, P. Duhem) não assume
a ciência como sendo isenta de erro e de correcções e nisso distingue-se do
continuísmo ingénuo. Mantém-se continuísta no sentido em que faz assentar as
descobertas de uma época da ciência não nas verdades do período anterior, como
o continuísmo ingénuo, mas sim nas investigações e debates das épocas
anteriores. No interior deste processo, os erros assumem um interesse particular e o exame crítico dos
problemas por eles levantados constitui, com frequência, o elemento de
continuidade, o elo de ligação entre uma e outra fase da ciência.
Segundo os descontinuístas (por
exemplo, Bachelard, A. Koyré, Popper), o desenvolvimento da ciência contém
momentos de ruptura que separam nitidamente uma fase da outra, às vezes quase
antagonizando-as. Essas rupturas dizem respeito sobretudo aos princípios gerais
e não podem considerar-se preparadas por qualquer tipo de antecipação. Quando
uma teoria,
ou, se quisermos, um complexo de teorias ligadas pelo mesmo
"paradigma", não consegue descrever os novos resultados
experimentais, ou quando lhe descobrimos as contradições e as lacunas que se
tornam insanáveis, então torna-se necessário inventar novas hipóteses
que abrirão caminho a um tipo de investigação à partida imprevisível.
Não há dúvida que uma tal visão descontinuísta se revela
adequada a descrever algumas grandes revoluções científicas, como, por exemplo,
a de Galileu, de Darwin, de Einstein, etc. Mas permanece o problema: que coisa
levou Galileu, Darwin, Einstein a inventarem as suas novas hipóteses? Para
responder a esta pergunta, ou se recorre às tentativas dos seus predecessores
(nas suas linhas gerais ainda agarrados ao velho paradigma, mas já bem
convencidos da necessidade de o superar) ou então se invoca uma intuição que,
em boa verdade, é uma forma de dizer que não sabemos.
Duas perspectivas descontinuístas:
Popper e Kuhn
KARL POPPER
Em Popper, há um certo continuísmo.
Ele sublinha que a sucessão das teorias constitui um progresso das ciências em
direcção à verdade — a sua meta inalcançável. As teorias refutadas inserem-se
nesse movimento de aproximação à
verdade. Contra o descontinuísmo radical, afirma que "as nossas teorias são senso comum criticado
e esclarecido".
O elemento descontinuísta do
pensamento de Popper reside no facto de ele não considerar que o progresso se
faça por acumulação de conhecimentos — a relação entre velhas e novas teorias,
entre a actualidade da ciência e o seu passado, é crítica. As novas teorias corrigem e/ou substituem as anteriores.
O desenvolvimento da ciência é imprevisível, porque as teorias científicas são
livres criações do sujeito: a referência aos antecedentes só pode esclarecer a situação do problema cuja solução
exige um acto criativo que não se pode prever a partir dessa situação. Os
progressos mais significativos das ciências constituem revoluções intelectuais e científicas.
«Segundo
Popper, na ciência nós procuramos a verdade — e a verdade não é dada pelos
factos, mas pelas teorias que correspondem aos factos. Entretanto, essa é uma definição de verdade, mas nós não
temos um critério de verdade, já
que, ainda que formemos uma teoria verdadeira, jamais poderemos sabê-lo, pois
as consequências de uma teoria são infinitas e nós não as podemos verificar
todas. Sendo assim, segundo Popper, a verdade é um ideal regulador. Eliminando os erros das teorias anteriores e
substituindo-as por teorias mais verosímeis, aproximamo-nos da verdade. Para
Popper, é nisso que consiste o progresso da ciência — e, por exemplo, é
assim que se passa, progredindo sempre para teorias mais verdadeiras, de Copérnico a Galileu, de Galileu a Keppler, de Keppler a Newton, de Newton a Einstein.
Com
isso, porém, não devemos pensar que exista uma lei de progresso da ciência,
pois a ciência também pode estagnar. O progresso da ciência conheceu obstáculos
(epistemológicos, ideológicos, económicos, etc.) e talvez venha a
conhecê-los. Não existe lei do progresso na ciência. Este faz-se por meio de
"revoluções intelectuais e científicas", estas "são introduzidas
a partir de falsificações bem sucedidas. ...As teorias não são resultado
directo das refutações; foram realizações do pensamento criativo, do homem
pensante ". Popper diz que temos um critério de progresso: uma teoria pode
aproximar-se mais da verdade do que outra.
Saliente-se
que a ideia de "aproximação à verdade" nada tem em comum com a ideia
de acréscimo gradual de pormenores na teoria que a deixariam, no essencial,
igual a si mesma. As teorias refutadas integram o processo de aproximação à
verdade por terem provocado a criação de teorias melhores:
"A
afirmação de que a Terra está em repouso e que os céus giram à volta dela está
mais longe da verdade do que a afirmação de que a Terra gira em torno do seu
próprio eixo, de que é o Sol que está em repouso e os outros planetas se movem
em órbitas circulares à volta do Sol (tal como foi avançado por Copérnico e
Galileu). A afirmação, que se deve a Keppler, de que os planetas não se movem
em círculos, mas sim em elipses (não muito alongadas) com o Sol no seu foco
comum (e com o Sol em repouso ou em rotação à volta do seu eixo) é mais uma
aproximação à verdade. A afirmação (que se deve a Newton) de que existe um
espaço em repouso, mas que, excluindo a rotação, a sua posição não se pode
encontrar através da observação das estrelas ou dos efeitos mecânicos é mais um
passo em direcção à verdade."»
G. Reale, D. Antisieri, História da Filosofia, III, EP, p.p. 1042-1046
THOMAS KUHN
A reflexão de Kuhn
sobre a natureza da actividade científica articula-se em três conceitos
fundamentais: os conceitos de "paradigma", "ciência normal" e "ciência extraordinária".
a) Paradigma
Numa determinada época do desenvolvimento da ciência, as
investigações científicas são orientadas e estruturadas por um paradigma, isto é, por uma visão do
mundo (Weltanschaung), que, sendo geral, inclui não só a teoria científica
dominante como também princípios filosóficos, uma determinada concepção
metodológica, leis e procedimentos técnicos padronizados para resolver
problemas.
Assim, o paradigma científico dominante no século XVII, a
teoria de Newton, tinha como pressuposto uma representação filosófica da natureza (fundava-se na concepção
antiteleológica do mundo natural, concebendo-o como um sistema mecânico regido
pelo jogo de forças), apoiava-se nas leis
do movimento formuladas pelo próprio Newton, na adopção de uma determinada metodologia
(matematização da física) e na opção por determinadas técnicas de observação e
de experimentação.
A constituição de um paradigma instaura a comunidade dos
sábios (para Kuhn, a ciência é obra de comunidades científicas e não de génios
isolados) e define não só o meio de solucionar os problemas como também os
problemas que convém resolver.
b) A ciência normal e a ciência extraordinária
No período da ciência normal, a comunidade científica
trabalha a partir do paradigma estabelecido. Procede investigando fenómenos
ainda não explicados com o objectivo de os enquadrar na teoria dominante e de
resolver pequenas ambiguidades teóricas. No período da ciência normal — cujo
desenvolvimento é contínuo — o cientista, uma vez que a sua preocupação
essencial é a de, ao resolver problemas, estender o campo de aplicação do
paradigma, abstém-se, quanto ao que é fundamental, de criticar este. Reina o
acordo geral e a investigação desenvolve-se no interior do paradigma. E quando
um facto coloca um problema recalcitrante, que resiste ao enquadramento na
teoria consensualmente em vigor é, geralmente, descartado como
"anomalia", para não ameaçar o consenso no interior da comunidade
científica.
Contudo, a acumulação de anomalias, isto é, de casos
problemáticos que o paradigma não resolve,
acaba por dar origem a períodos de crise [um paradigma, dada a sua generalidade e complexidade, é sempre suficientemente impreciso para que se tornem possíveis estas "crises"]: as "anomalias", ameaçando o paradigma nos seus próprios fundamentos, são momentos críticos — pense-se na crise da física determinista desde 1924 — porque o consenso dá lugar à divisão, à formação de grupos que procuram outras teorias e outros fundamentos. A este período crítico dá Kuhn o nome de ciência extraordinária.
acaba por dar origem a períodos de crise [um paradigma, dada a sua generalidade e complexidade, é sempre suficientemente impreciso para que se tornem possíveis estas "crises"]: as "anomalias", ameaçando o paradigma nos seus próprios fundamentos, são momentos críticos — pense-se na crise da física determinista desde 1924 — porque o consenso dá lugar à divisão, à formação de grupos que procuram outras teorias e outros fundamentos. A este período crítico dá Kuhn o nome de ciência extraordinária.
c) Revolução científica
O momento de crise — que pode ser longo — só encontra o seu
termo quando um novo paradigma é adoptado. Como todo o paradigma representa um
modo geral de interpretar o mundo e não um simples conjunto de soluções
parciais ou regionais, ele corresponde a uma revolução científica e exige uma espécie de conversão mental por
parte de quem o adopta. Estabelecido o paradigma, segue-se um novo período de ciência normal. Os cientistas irão
aprofundar teoricamente o novo paradigma, resolver os problemas de acordo com
ele, i. e., com os novos modos de solução assimilados, evitando pôr em causa
esse modelo [por isso, dirá Kuhn, a comunidade científica não é dirigida pelo
ideal de verdade]. As revoluções científicas não são muito frequentes:
acontecem de vez em quando, o que denota uma certa resistência dos cientistas à
mudança.
A que se deve o triunfo de um novo paradigma?
«O triunfo de um novo paradigma pode dever-se a uma grande
variedade de factores: a sua capacidade para explicar factos polémicos
persistentes, a sua utilidade na resolução de problemas e realização de
previsões adequadas e, em não menor medida, a aura e o prestígio dos cientistas
que inventam uma nova teoria e a defendem. O prestígio pessoal de um cientista",
diz Kuhn "é muitas vezes considerado como sendo o resultado ou a prova de
um excepcional engenho e inteligência. Mas pode também dever-se ao facto de ter
apoios e amizades influentes no mundo das finanças e da política. Para que uma nova
teoria se imponha, o seu inventor deve ter uma posição relativamente elevada na
hierarquia universitária e facilidade no acesso a financiamento para a
investigação."
Jenny Teichman e Katherine Evans, Philosophy: a Beginner's Guide,
Blackweel, p. 146
Deste modo, a mudança de paradigma não obedece a critérios
simplesmente racionais e científicos (não é somente a sua eficácia teórica e
técnica, a capacidade de resolver mais problemas que os paradigmas
"rivais", que conta).
A grande diferença entre Kuhn e Popper reside no facto de a
mudança de paradigma não ser obra de uma racionalidade crítica: ao mudar o
paradigma, substituem-se teorias, meios, hábitos de trabalho e também os
objectivos — adoptam-se práticas distintas que não são alinháveis segundo o
esquema da "aproximação à verdade" de Popper.
Conclusão
Abordamos neste trabalho varias
ideias sobre a teoria do conhecimento, sobre a qual observamos varias
concepções divergentes acerca do mesmo, tais como o empirismo, racionalismo,
entre outros.
Bibliografia
GEQUE, Eduardo e BIRIATE, Manuel, Filosofia 11ª – pré-universitário «Teoria
do conhecimento», 1ª edicao, Maputo Logman Moçambique, 2010, pp. 75-119
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